Como o dólar impacta a inflação brasileira?

A valorização da moeda americana influencia a formação de preços de produtos e serviços na nossa economia.

O aumento da inflação é um problema recorrente na vida dos brasileiros, obrigando muitas famílias a mudar seus hábitos de consumo e muitas empresas a alterar sua rotina operacional.

Por ser uma moeda valorizada no mercado de câmbio e servir de reserva internacional para a maioria dos países, o dólar tem papel importante na formação dos preços finais dos bens e serviços que consumimos no nosso dia a dia, já que diversos setores da nossa economia importam insumos e matérias-primas dolarizados.

Continue lendo este artigo e entenda melhor como funciona a dinâmica do dólar como componente da inflação. Saiba como a sua vida pode ser afetada pela valorização da moeda.

Como funciona a cotação do dólar no Brasil?

Nosso país adota o regime de câmbio flutuante, ou seja, a variação do dólar em relação ao real é resultado das condições de oferta e demanda entre os agentes econômicos. Diversos fatores podem fazer com que o dólar se valorize ou desvalorize em relação ao real, tais como:

• diferencial de juros básicos entre os dois países, o chamado spread de juros. Trata-se da remuneração paga pelo banco central de cada país em seus títulos de dívida. Quanto menor esse diferencial, maior tende a ser a desvalorização do real frente ao dólar, já que os estrangeiros costumam exigir um prêmio maior para investir no nosso país;

• percepção de risco-país: quanto maior o risco percebido pelos estrangeiros na nossa economia, menor é sua disposição em trazer dólares para cá, o que faz com que a moeda brasileira perca valor. Além disso, quando o risco-país do Brasil piora, até mesmo os agentes nacionais compram dólares para se proteger;

• saldo da balança comercial, isto é, quanto o país importou e exportou durante determinado período. Se o saldo for negativo, significa que a saída de dólares foi maior que a entrada, o que faz o valor da moeda brasileira cair;

• gastos de brasileiros no exterior também podem aumentar a demanda por dólares e, com isso, pressionar o valor do real para baixo.

Por que o valor do dólar influencia a inflação brasileira?

Vivemos em uma economia globalizada e cada vez mais dependente do comércio internacional. Os países que impõem muitas restrições a importações, por exemplo, tendem a perder competitividade por não conseguirem acompanhar o avanço tecnológico do resto do mundo. Com o tempo, isso faz com que sua produção interna fique mais cara e perca qualidade, prejudicando os consumidores.

Essa dinâmica também funciona para o Brasil, já que muitos insumos e matérias-primas utilizados por nossas empresas vêm de fora, como é o caso dos defensivos agrícolas usados nas lavouras e de componentes e máquinas empregados na indústria. 

A alta do dólar faz com que esses produtos fiquem mais caros para os empresários, que, para se manterem competitivos, precisam repassar parte desses custos aos consumidores. E esse repasse de custos aumenta a inflação.

Cabe lembrar também que diversas commodities produzidas pelo Brasil são negociadas em dólares, como é o caso do petróleo e do minério de ferro. Quando o valor do barril do petróleo sobe no mercado internacional, os preços dos combustíveis nos nossos postos precisam ser reajustados para que se mantenha a paridade de valores. 

Se os preços dos combustíveis são mantidos artificialmente baixos no mercado interno, o lucro das empresas do setor diminui, o que reduz sua capacidade de investimento, competição e aumento de oferta. Dessa forma, quando os combustíveis aumentam, o valor do frete também fica mais caro, o que eleva o preço final dos produtos para o consumidor.

O mesmo vale para outros produtos que exportamos, como a carne (bovina, suína e de frango). Quando esses produtos se valorizam lá fora, pode ser mais vantajoso para o produtor exportá-los do que disponibilizá-los no mercado interno, o que reduz sua oferta no país e eleva seus preços ao consumidor.

A alta do dólar é sempre ruim?

Não necessariamente. A alta do dólar torna alguns dos nossos produtos mais competitivos no mercado internacional, principalmente commodities, que não têm muito valor agregado ou tecnologia embarcada. Com isso, as empresas que exportam esses produtos faturam mais.

No entanto, como ressaltamos anteriormente, vivemos em uma economia cada vez mais integrada e até mesmo a nossa agricultura precisa de insumos importados para ter competitividade. A ração animal é outro exemplo. Quando seu preço sobe no mercado internacional, os custos da nossa pecuária também sobem, exigindo, conforme o caso, repasses ao consumidor, o que eleva a inflação.