Adequação lingüística, uma questão de bom senso

Adequação lingüística, uma questão de bom senso

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Adequação lingüística, uma questão de bom senso 10 6 99

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Há muito tempo se discute o que é certo e o que é errado com relação aos usos da linguagem. Usar a língua é como usar roupas, tudo é permitido desde que sejam respeitadas as convenções necessárias. Ninguém vai à praia num dia de sol usando terno, gravata ou salto alto e vestido de noite. Assim como ninguém vai para uma entrevista de emprego de biquíni, canga ou sunga e chinelos. Imagine você chegando a uma festa em que todos estão usando terno, gravata e vestido longo e só você está de jeans e camiseta. Seria o “mico” do ano. Com a linguagem acontece o mesmo. Temos vários estilos de linguagem - variantes lingüísticas - e nada é errado, desde que saibamos usá-los de acordo com as convenções sociais.

Cada comunidade tem sua própria forma de se expressar. Se pensarmos em nível nacional, cada região do país tem sua maneira de usar a língua. Um gaúcho fala diferente do mineiro, que fala diferente do paulista, que fala diferente do pernambucano, e assim por diante. A essas diferenças chamamos variantes lingüísticas. Não há uma variante melhor que a outra, todas são igualmente importantes e representativas da cultura das comunidades que as falam. Portanto, quando rimos de um caipira que fala “Nóis fizemu um bolo procê”, estamos agindo com preconceito, o preconceito lingüístico, porque julgamos nossa forma de falar superior a do outro. Portanto cada povo não só pode, como deve, preservar sua forma de se comunicar dentro de sua comunidade, pois essa fala nos representa, ela é parte determinante do que somos.

escrever Com a língua escrita a coisa não é muito diferente. Temos os vários ambientes de escrita e cada um deles é diferente do outro. Um texto jurídico é diferente de um texto acadêmico, que é diferente de um bilhete, que é diferente de um bate-papo no MSN e assim por diante. Portanto, tanto na língua falada, como na escrita, devemos respeitar algumas convenções.

Existe uma necessidade de nos fazermos entender e para isso devemos respeitar algumas regras. O uso de uma variante lingüística qualquer dentro de um ambiente que requer o uso da variante padrão pode ocasionar problemas de comunicação. Imagine você abrindo um jornal de circulação nacional e lendo a seguinte manchete: “Menino rouba o cacetinho do padeiro”. Muitos de nós nos assustaríamos com esse texto, entretanto trata-se de uma linguagem regional, para algumas comunidades cacetinho é pão. Nesse caso o que houve foi o uso inadequado da linguagem regional. Um jornal de circulação nacional exige que a notícia seja escrita em língua padrão, ou seja, aquela linguagem que é comum a todos.

internet Na internet é muito comum ocorrem erros assim. Pessoas acostumadas a usar os chats, fazem uso do internetês, linguagem criada para facilitar os diálogos, para agilizar as conversas. Não é problema algum as pessoas se utilizarem de expressões como, “vc”, “naum”, “kza”, quando estão teclando no MSN ou em qualquer outro ambiente de bate-papo, desde que o interlocutor domine a mesma linguagem. Entretanto quando essas pessoas estendem essa linguagem a outros ambientes, como fazer comentários em blogs, escrever textos em blogs, em qualquer outro site da internet, ou texto profissional ou escolar, estão cometendo o “pecado” da inadequação lingüística. Um texto que pode ser lido por milhões de pessoas deve ser escrito na língua padrão, deve respeitar as regras exigidas por essa variante para que todos se entendam. É importante que conheçamos a língua padrão para que possamos nos comunicar com todos e mostrarmos conhecimento e domínio do nosso idioma. Ninguém consegue um bom emprego se escrever um currículo cheio de abreviações e erros ortográficos. Imagine alguém enviar um currículo escrito “Ispecialista em makinas de flucho”. O profissional pode ser o melhor especialista da área, mas dificilmente irá conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho, pois demonstra um péssimo conhecimento lingüístico.

A internet é hoje um dos meios que temos para conhecer as pessoas e suas capacidades. Através de um texto escrito por alguém no ambiente virtual podemos avaliar sua formação e seus conhecimentos. Saber transitar por várias variantes lingüísticas e adequá-las ao ambiente correto é uma amostra da capacidade intelectual e também profissional do autor do texto. Por isso devemos cuidar da nossa linguagem, como cuidamos do nosso visual, caso contrário nossos textos se tornarão o “mico da net”.

nane

    Elaine Cristina Carvalho Duarte é formada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais  e mestre em Literatura pela Universidade de Brasília. Tem 34 anos de idade, é natural de Itajubá, Minas Gerais e reside, atualmente, na Noruega.

28 Comments
Comments
  1. Isto aí! Por mais que achem a língua portuguesa "chata", ninguém dispensa uma boa comunicação. E para tal, ela é importantíssima!
    Assino embaixo!

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  2. Eu procuro usar em meus textos uma linguagem culta e ao mesmo tempo de fácil entendimento. O chato é que devido ao significado popular de certas palavras faz com que fique uma ambigüidade no texto...

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  3. Concordo em número, gênero e grau..
    me esforço ao máximo para colocar meus textos em um bom português...

    Abraços,
    Prolixo

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  4. Juliana, esse é um tipo de artigo que eu já estava preparando para o Leio. Adorei a idéia de convidar alguém para falar sobre isso, após a sua "colheita de salsas"! Um abraço!

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  5. Primeiro devo dar os parabens para Elaine por esta introdução sobre a língua portuguesa do nosso querido Brasil e também a Juliana por esta iniciativa, adorei muito ter entrado aqui no Dicas e visto esse texto maravilhoso, muito bom mesmo!

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  6. Ju,

    Foi um prazer ler seu post. Concordo com suas palavras em número gênero e grau.
    Nunca gostei muito de estudar português, mas tive uma boa formação incentivada por minha mãe. (A propósito, vou enviar seu post para ela por email. Ela vai gostar muito!)

    Mudando radicamente de assunto...
    Parabéns pelo 6º lugar no ranking do blogblogs, super merecido. Só este post já mostra a qualidade de seu trabalho.

    Grande beijo e uma ótima semana para você!

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  7. Juliana,quando a gente pensa:"pronto,acho que a Ju não vai ter nada para postar hoje,os assuntos findaram-se."Lá vem você com um post maravilhoso,inteligentésimo,e principalmente,muito adequado ao momento que estamos atravessando.
    Quando eu estudava, no antigo primário,mudaram algumas grafias,tiraram letras do nosso alfabeto,fizeram um "auê".Nos acostumamos,aprendemos a escrever daquela forma.Agora,as pessoas não sabem escrever direito como está(vide post recente em salsas),não se interessam em aprender,e lá vem o governo novamente mudar a grafia.Algumas palavras acentuadas perderão o acento,letras voltam a fazer parte do alfabeto,e aí?Como fica a cabecinha das crianças que estão sendo alfabetizadas agora?E quem já não sabe escrever direito agora, como farão???
    Nossa.
    Mas parabéns,lindo post,e necessário.

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  8. E ainda faltou dizer que para quem tem a idéia de ter seu blog/site bem divulgado, a importância da boa escrita aumenta e muito.
    Tenho um amigo que está morando na Califórnia, por fazer muito tempo que está por lá, tem que recorrer ao dicionário para relembrar certas palavras, se você escreve errado não terá dicionário no mundo que traduza o que quis dizer.
    Outro fator é a qualidade de seus leitores. Quem quer leitores de qualidade tem que escrever com qualidade.
    E aí está a Juliana, mais uma vez provando que bom gosto e bom senso são prata da casa.
    Parabéns pela matéria.

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  9. Nossa como isso me persegue muito difícil o português sem falar que o "internês" ajuda ainda mais a piorar minha situação.
    Por isso toda vez antes que eu poste um comentário aqui ou eu já vou corrigindo com um plugin do firefox ou dou uma olhada no Word, nossa acho que eu já disse isso em um algum comentário anterior. (rs)

    Abraços.

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  10. As mudanças na lingua portuguêsa referentes aos acentos gráficos podem ajudar muito.

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  11. Juliana, primeiramente, ótimo post!

    A língua portuguesa ao contrário do que muitos dizem não é chata, ela apenas é complicada, são tantas regras para seguir que quando estamos no msn, orkut ou achat decidimos usar as gírias e o internetês porque é mais fácil e rápido.


    Muitas pessoas exageram, em lugares distintos não se deve usar o dialeto da internet (naum, axim, vc). As pessoas devem ter o bom senso, para manipular a língua nos lugares certos.


    Abçs!

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  12. Queridos, obrigada pelos comentários.
    Esta moça aí é minha amiga de infância.
    Achei o texto um primor, sensacional e não me atrevi a escrever sequer a introdução.
    Espero que possa alegrar os entusiastas da boa escrita e conscientizar os que insistem em utilizar o internetês em seus blogs.
    Beijão a todos e continuem comentando.

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  13. É mesmo excelente esta postagem - já vou usar o artigo como referência quando converso com amigos 'virtuais' sobre o assunto. Vi que você mudou a imagem do cabeçalho. Vai ser esta definitivamente agora? Ainda não sei se gostei mais deste ou do antigo...

    Parabéns pela ótima postagem e abraços,

    Alberto

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  14. Ju tô de volta!!
    =D

    muito boa matéria!!
    Convenhamos.. a nossa lingua é mais complicada de se aprender, ha várias regras e exceções.
    Até o nosso presidente autorizou a escrever sem os acentos "trema" e "circonflexo".
    =D
    ahuah
    Como "vc" dice... chats!!

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  15. Caros internautas,

    estou realmente lijongeada com tantos comentários sobre meu texto. Fico feliz em saber que gostaram do que escrevo. Estudar língua portuguesa é muito, muito gratificante, o que estraga tudo são os gramáticos chatos que ao invés de se preocuparem com o que realmente interessa(leitura e escrita), ficam dando importância pra coisas como gramática pura. A gramática da língua tem sua importância, mas só quando aplicada ao texto.

    Abraços a todos!!

    Elaine

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  16. Olá, Juliana! :-)

    Antes de tudo, um "parênteses": (parabéns pelo novo cabeçalho do layout! Há algum tempo só lia via feed, sem visitar o blog. O que me trouxe de volta foi este artigo da Mestre Elaine).

    Concordo com a importância da adequação lingüística em ambientes onde ela é esperada.

    O que acho "complicado" é afirmar que "Um texto que pode ser lido por milhões de pessoas deve ser escrito na língua padrão, deve respeitar as regras exigidas por essa variante para que todos se entendam."

    Acho que depende do objetivo do escritor, pois há pessoas que realmente não querem ser compreendidas por todos. Por exemplo, há bandas musicais que são ouvidas por milhares de pessoas, mas fazem questão de não serem compreendidas em suas letras. E o "pior", quer dizer, o fato: fazem sucesso. O mesmo vale a grandes escritores. Guimarães Rosa, por exemplo, não respeita todas as regras da norma padrão e não é compreendido por todos, mas não deixa de ser genial!

    Outro fato: muitas vezes o ambiente não deixa claras suas normas internas: por exemplo, seu blog apresenta alguma sugestão do tipo: "escreva claramente em bom português" ? Aliás, você realmente quer que todos os seus leitores escrevam "corretamente" (já que as tais "salsas digitais" têm feito sucesso)?

    Creio que é algo a se decidir, pois fica contraditório fazer campanha pelo uso da norma padrão e, ao mesmo tempo, tirar proveito dos desvios da norma.

    Respeitosamente,
    Leitor e fã Vinícius

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    Respostas
    1. Exato, também pensei o mesmo. Em alguns casos, o escritor tem o objetivo, por exemplo, de ser identificado e categorizado como um Pernambucano nato, por exemplo. Então, cada caso é um caso. Mas o texto é excelente, parabéns pra autora.
      Abraço

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  17. Sou totalmente contra as mudanças da língua portuguesa. Algumas coisas que para muitos parecem inúteis, como a crase, serão perdidas, mesmo evitando muitas incômodos da língua. Sem crase, o pessoal vai começar a falar frases cheias de ambigüidades, como comprei a vista e costurei a mão...

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  18. Olá Juliana, sou leitor de seu blog já à algum tempo e graças a você remodelei todo o meu blog.
    Mais uma vez você está de parabéns pela postagem , tenho um certo costume de usar a linguagem popular de minha cidade nos meus postes (sou nordestino de Pernambuco) , acho que não causa muitos problemas, mas vou tomar mais cuidado daqui por diante.

    Sobre a discriminação linguística , eu acretido que nem sempre é o caso , pois a maioria de meus colagas são do Sul do Brasil e sempre dão gargalhadas quando eu exagero no "pernambuquês", mas nunca senti maldade por parte deles.
    Abraços , adoro seu trabalho e quando crescer quero ser igual a você! hehehe.

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  19. Vinícus Cássio -

    gostei de seu comentário. É uma afirmação interessante a sua... E o seu comentário é um dos raros que são realmente bons, na minha opinião.

    Abraços

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  20. Gostei muito do seu texto. Me mata essa história de que tudo pode! Você pode escrever como quiser, mas eu posso não entender e simplesmente lhe ignorar!
    Quando entro num blog com uma escrita sofrível eu costumo dar um toque. Até fiz uma campanha. Dá uma olhada aqui: http://sarapateldecoruja.blogspot.com/2008/08/como-estou-escrevendo.html
    Um abraço.

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  21. Muito obrigado por tudo, tem sido muito úteis os códigos e dicas do Dicas Blogger. Estou sempre utilizando as novidades, portanto continue que agradeceremos!!!

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  22. Escrever certo sempre é bom né :D

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  23. Eu penso que uma pessoa que começa um blog escrevendo em internetês está fadada ao fracasso,pois nunca será levada a sério,não sou o melhor escritor,mas evito o uso dessa forma "orkutizada" de escrita no meu blog,assim ele se torna mais sério


    Ou menos cômico

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  24. Parabens pelo post. Eu procuro usar uma linguagem simples, textos curtos, pois tento passar um conteúdo jovem!

    Tento assim com essa escrita conquistar meus leitores e visitantes. Mais o meu blog ainda está iniciando por isso dou os meus parabens por essa postagem, que tem sido muito utel para blogueiros como eu.

    Abraço!

    http://osdesenrolados.blogspot.com

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  25. Eu me voltei aos livros de português depois que criei meu blog, tenho aprendido bastante porque além das teorias dos livros escrever em um blog é uma boa forma de praticar o que se aprendeu.

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  26. Por acaso você foi aluna do Baltasar no Rio? Pergunto porque lembro até hoje de uma aula dele (lá nos idos de 1992) em que usou este mesmo exemplo das roupas adequadas a cada evento e também me marcou. Abraços e sucesso!

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